segunda-feira, 23 de abril de 2012

Crônica: DOMINGO MACABRO


DOMINGO MACABRO

Sol alto. Céu sem nuvens. Domingo. Dia de esticar o sono, principalmente para quem mora sozinha por opção e  não tem compromisso. Afinal a semana fora comprida e o dever cumprido. O descanso era mais do que merecido para aquela oficial de justiça que não deixa nada para depois. Ellen, nome abreviado de Ellene, sem “h” , com dois “l” e “e” no final, para complicar sempre que é requisitado em alguma transação,  nem se dá conta das horas quando ouve a campainha tocar. No edifício onde mora o silêncio indica que a maioria de seus habitantes, ou viajou ou ainda dorme. Envolta num roupão, espia pelo olho mágico da porta e nada vê. Por curiosidade, abre-a e se depara com uma cena inusitada: uma pessoa adulta está caída e em posição fetal, como a contorcer-se de dor, logo a sua frente.  Procura controlar-se e verificar o que está acontecendo. Ninguém por perto. Apenas ela e aquele estranho bem vestido, olhos arregalados e de uma imobilidade preocupante.
Liga para a portaria do prédio e pede ajuda. Decorrem vinte angustiosos minutos até a chegada de uma autoridade policial e dos paramédicos do corpo de bombeiros, que constatam que o indivíduo está morto.
Mil perguntas lhe veem a mente enquanto o corpo aguarda a chegada da perícia. Como chegara até ali? Quem seria? Por que um desconhecido tocaria sua campainha logo num domingo de manhã? Enquanto se refaz do susto e o corpo é removido, recebe a recomendação para estar disponível nos próximos dias para uma eventual investigação.
Nenhum morador do terceiro andar se manifestou ou tomou conhecimento da operação que ela chamou de “domingo macabro”. Com o incidente perdera a vontade de planejar o dia, após uma chuveirada. Tentou concentrar-se, após tomar um copo de iogurte, seu desjejum preferido, mas a cena não lhe dava paz. Queria explicações. Precisava delas. Ligou o “notebook” à procura de notícias sobre o  ocorrido confiante nas  tecnologias, e nada! Acabou por iniciar uma conversa com uma escrivã de polícia, amiga de velhas travessuras, que prometeu-lhe prioridade nas informações. Combinaram de almoçar juntas, não sem antes ligar para a mãe, preocupada com o fato de a notícia espalhar-se e pegá-la de surpresa.
Para um domingo que nada prometia, foi movimentado para muito além do imaginário. 

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